terça-feira, 6 de julho de 2010

Em poucos anos, quanta diferença! Por Rodolfo Marocchio



Grande Guerreiro Rodolfo Marocchio, escreveu com maestria este artigo, que vale apena publicar. Concordo plenamente com ele, e fico feliz ao encontrar pessoas que tem os mesmos pensamentos e sentimentos.

Parabéns Guerreiro!


Sou professor há pouco tempo e talvez minha visão esteja restrita ao meu ambiente de trabalho, mas de um tempo pra cá, tenho me preocupado com alguns assuntos referentes ao ensino, ou melhor, a forma como os alunos estão desenvolvendo seus conhecimentos, habilidades e atitudes.
Certo dia, na sala dos professores, comecei, juntamente com outros professores, a lembrar de alguns brinquedos de nossa infância, isso faz mais ou menos 20 anos, ou melhor, entre meados da década de 80 e 90. Lego, comandos em ação, fazendinha, ferrorama ou autorama, etc. Eram os mais modernos brinquedos da época. Sem falar nos eletrônicos, 3 em 1 com duplo deck, vinil, vídeo cassete, toca CD portátil.
Brincar na rua de casa era muito saudável, jogava bola em um campo de asfalto e as traves eram feitas com chinelo, que depois foi substituído por uma trave feita com caibros que sobravam das construções.
Tínhamos carrinho de rolemã, era simples – uma prancha de madeira, dois caibros para serem os eixos, um parafuso com arruelas e uma porca de travamento além de pregos para fixar os eixos – nós éramos os engenheiros mecânicos de máquinas movidas a empurrões, éramos também engenheiros civis, pois riscávamos com pedaços de tijolos as margens das pistas onde seriam disputadas a nossa fórmula CR (carrinho de rolemã).
Esconde-esconde, pega-pega, queimada, voleibol em pleno asfalto ou terreno de terra onde a rede era um barbante esticado. Bets, campeonato de futebol de botão. Éramos criativos em nossas brincadeiras. Capazes de organizar eventos – como o torneio de futebol de rua, várias equipes – uma de cada rua – o juiz sempre era o pai de alguém...sabe como é criança, não conhece o sentido da palavra diplomacia, quer resolver tudo no tapa.
Esta criatividade, de inovar as regras ou de criar novas brincadeiras, era também refletida na escola. Lá, o professor era o “dono” da sala, o respeito com os mais velhos era sentido. Pergunte ao seu pai ou mãe como era. Tudo bem, já ouço você dizer – Os tempos eram outros – ok, concordo com você, mas valores são conceitos, que em minha humilde opinião, não evoluem. Respeito, honestidade, fidelidade tem o mesmo sentido ontem, hoje e amanhã.
Mas voltemos ao item criatividade, não quero perder o foco.
Quando meus professores pediam para realizar trabalhos escolares, tínhamos que debruçar sobre livros e escrever na velha folha com pauta. Lembro-me que mamãe chegou a desembolsar um quantia razoável de cruzeiros em um enciclopédia – 15 volumes sendo 1 só o índice – era leitura pura, incansáveis resumos de listas de livros da nossa rica literatura – Monteiro Lobato, José de Alencar, Machado de Assis, entre outros. Além de escrever, ensaiávamos peças teatrais, fazíamos colagens em cartolinas e apresentávamos para toda sala, ok, sei que isto vocês também fazem, mas o detalhe é que sabíamos todo o conteúdo que seria apresentado e não só uma parte como vocês fazem hoje.
A tabuada era regra. Estude durante o dia que tomarei quando chegar do trabalho. Operações de divisão, subtração e adição, tudo na ponta da língua, a avaliação era oral.
A feira de ciências era o auge de nossa criatividade, colocávamos em prática a química, a física térmica, óptica, eletrostática, e por aí vai. Além de fazermos as experiências tínhamos o prazer de explicar teoricamente o evento, a forma como os elétrons combinavam. Éramos movidos pela curiosidade.
A internet não existia, era algo que estava em expansão e seu acesso era restrito a instituições bancárias, militares e de ensino superior. Celulares? Eram para uma minoria, ou melhor, a telefonia fixa era um item negociável, você podia alugar uma linha telefônica e isto aconteceu recentemente, salvo engano até 1995 ou 1996.
Mas a evolução veio. Continua frenética até hoje. Isto é excelente! Banda larga, telefonia 3G, TV em 3D, caramba, que delícia. Mas isto me deixa um tanto quanto confuso, pois não vejo os jovens utilizar tanta tecnologia para desenvolver o cérebro. Estão cada vez mais limitados.
O CTRL+C e o CRTL+V virou moda. Hoje para fazer um trabalho escolar sobre qualquer assunto é fácil. Ligue seu computador, acesse um site de busca, clique no primeiro ou segundo item que aparece na lista e voilà, todo o trabalho está pronto. Agora basta copiar e colar em um documento, imprimir, colocar seu nome e ganhar uma nota acima da média. Parabéns. Você foi aprovado.
Mas e o seu desenvolvimento racional? A evolução da sua mente? A capacidade de escrever aquilo que você aprendeu? Infelizmente vocês não conseguem colocar no papel mais do que algumas linhas, que infelizmente não alcançam meia página de um A4 qualquer.
A capacidade de entender de forma lógica um problema matemático, ou melhor, a capacidade de resolver problemas no seu ambiente de trabalho, na sua família. Talvez você devesse encontrar estas respostas no site de busca, CTRL+C e o CRTL+V e apresentar a solução. Pasmem, mas já ouvi um aluno dizer que 4 – 4 = 1, o pior não foi isto, mas a concordância de outros alunos em afirmar que a amiga estava correta em seu raciocínio.
Não estou dizendo que o CTRL+C e o CRTL+V não sejam bons, pelo contrário, é excelente! Desde que você tenha capacidade de entender e aprender com aquilo que outro escreveu, talvez até este autor tenha realizado o CTRL+C e o CRTL+V. Mas é importante que você tenha a capacidade de criar algo sobre aquilo que já existe. Inovar seria o termo correto.
Não procure culpados pela sua incompetência. Você deve estar pensando: - Mas se meus professores, ou melhor, mas se, você professor, tivesse me ensinado direito eu teria pensado diferente, eu teria aprendido corretamente. Jovem, não sou eu que devo ensinar você a pensar. Essa atitude deve partir de dentro de você. E também não coloque em seus pais a culpa por ter feito o possível para lhe dar conforto. Eles certamente ainda estão a recordar das brincadeiras que faziam quando eram jovens e do esforço que desprendiam para chegar até a escola. Experimente sentar com eles e conversar sobre as experiências de vida deles, talvez você aprenda algo.
A diferença entre vocês, jovens, e os estudantes da década de 80 e 90 é a capacidade de raciocinar. Todo o sistema quer pessoas fáceis de serem manipuladas, pessoas que são incapazes de pensar e agir. Devido a todas as facilidades e liberdades encontradas hoje o jovem está sendo induzido a amputar de vez seu raciocínio. É apenas um executor de tarefas. Não temos mais mentes brilhantes, salvo algumas raras exceções, mas estas também são muito raras.

Rodolfo Marocchio

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