Ronilço Cruz de Oliveira, psicólogo, atua como especialista em melhoria da qualidade de vida, faz palestra com o objetivo de levar ao público a conscientização da adoção de uma vida melhor, esclarecendo como a descoberta da auto-estima, motivação pessoal e do prazer de viver se tornam a mola propulsora para novas conquistas. Ronilço, mostra de maneira clara e objetiva, por meios de musicas e metáforas, que em cada um de nós existe um vencedor. Visite meu site: www.souguerreiro.com
segunda-feira, 28 de março de 2011
Professor provocador!
Crescer não é fácil, né? Crescer e ficar com ares de criança é mais difícil ainda. Não falo daqueles adultos infantilóides que se fantasiam de crianças que não existem e falam estranho. Falo da poesia nas relações, como as que vivem as crianças. Eu sempre tento enxergar as coisas, senti-las como quando era pequeno. O mundo era repleto de surpresas. Surpresas que nos faltam hoje em dia. Surpresas que transformam diariamente as relações. Coisa boa é sempre descobrir, no mundo, nas pessoas e nas histórias e geografias que nos cercam, coisas novas possíveis de serem reinventadas... com olhares, gestos, toques, conversas, músicas, movimentos...
Ter um olhar de criança, um olhar que se surpreende, é poder contar com a ajuda dos outros. É saber que os outros têm um papel fundamental em nossas vidas. É saber que os outros se flexibilizam por você, que podem entender suas aflições, entender o que sente e lhe ajudar sempre. Mostrar para as crianças que a surpresa é a melhor forma de espantar a resignação, a robotização do pensar e a docilização dos corpos, de ensinar a caminhar por rotas de fuga, linhas de escape e fissuras que podem nos levar para um campo mais liberado das relações e mais leve daqueles impostos pelas rotinas dos dias atuais.
Bem, criança adora deslocar o outro. Coisa que professor deveria fazer sempre. Deslocar significa fazer com que o outro encontre seus argumentos e reconstrua o lugar que estava. Criança desloca e, com isso, cresce! Deslocamento provoca crescimento.
Sempre devemos pensar, enquanto familiares e professores, que tipo de deslocamento provocamos nas crianças. Penso sempre na figura de um nômade, de um cigano, de um itinerante. Alguém que caminha, que se move, que anda em bando, que faz leituras das culturas, que as acomoda por um tempo e depois vai embora, levando somente o que interessa, o que é possível se tornar experiência sensível de vida. Devemos pensar se fazemos o pensamento das crianças caminharem, dançarem. Pensamentos que vão para além dos territórios marcados das didáticas educacionais tão pregadas pelos manuais de educação, pelos receituários da literatura infantil e dos apostilados embrutecedores que pipocam nas escolas país adentro.
Temos de pensar sempre nas respostas que oferecemos aos outros, às crianças. Respostas que só servem para anular a possibilidade de elas continuarem perguntando coisas, de continuarem a se surpreender com as descobertas. Imaginem quantas descobertas um adulto pode fazer durante um dia! Mas nem nos lembramos do que descobrimos, pois, ao descobrir algo, imediatamente o colocamos à prova, checamos, atribuímo-lhe utilidades e o colocamos na fragmentada caixinha do pensamento. Crianças não fazem isso... tudo o que descobrem pode virar expressão, canção, brincadeira, movimento, poesia...
Deslocar e se surpreender! Coisa que depende daquele que provoca... Professor é provocador! Alguém que não deve ter respostas para tudo, deve sair do campo da mediação, que pressupõe respostas e condutas corretas. Um professor-provocador seria aquele que aparece, lança uma idéia, surpreende aquele que escuta e sai de cena... para que o outro possa criar formas próprias de se relacionar com o mundo.
Como as provocadoras-crianças! Criança faz pergunta e nos deixa de queixo caído, age de forma que não esperamos, foge a todo custo das categorizações médicas e escolares. Escapa dos discursos de infância apregoados pelos tratados de uma pedagogia pobre de cultura.
Ver o mundo com olhares de criança nada mais é do que continuar a ver o mundo como se fosse a primeira vez... sem colocar as coisas em seus devidos lugares, pois os mesmos não existem. Sem essa necessidade por classificar e julgar que os adultos carregam consigo e os faz pensar que colocar um terno é mais importante do que rolar um bambolê por aí.
É justamente por conta da falta de habilidade de criar surpresas e deslocamentos que pais e mães esperam tanto de suas filhas e filhos... e se frustram tanto! Sem contar com as escolas, que também esperam de seus estudantes. Esse tipo de relação de expectativa é o que faz com que meninos e meninas se sintam tão pressionados, tão cobrados e tão sufocados!
Vamos tentar ver o mundo com olhos de surpresa e com o pensamento andando por relações. Investir nesse pensamento é acreditar que a educação vale para alguma coisa. Acreditar nisso é a chance que damos aos nossos parceiros da vida para que se tornem mais próximos de nós. Começar com o pensamento que habita as micro-relações, as pequenas relações. Transformar o que pensamos é enxergar o todo diferente... ao invés de "mudar o mundo", seria "mudar um mundo"... um de cada vez. Recriar as relações e se abrir para a novidade do outro. É a nossa chance de criar um mundo com mais possibilidades de interação!
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